quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

"EU NÃO SABIA QUE DOÍA TANTO" - CRÔNICA 01 - EDUARDO ANTONIO GOSSON.

EDUARDO ANTONIO GOSSON

EU NÃO SABIA QUE DOÍA TANTO
Por Eduardo Gosson (*)

Viver é despedir-se, digo eu. “Viver muito é doloroso porque a gente vai enterrando os outros” - diz o Mestre Oscar Niemayer.
Essas duas citações vieram à mente depois que um ciclo de mortes se abateu sobre a nossa família, aniquilando toda uma geração: foi inaugurado por meu pai Elias Antonio Gosson, em 27 de fevereiro de 1990, vítima de infarto agudo do miocárdio, e encerrado agora no dia 27 de dezembro ultimo com Jorge Antonio Gosson. Seis irmãos partiram na Nau da Eternidade: Elias(1990) Francisco(1996), Hulimase(2002), Jamyles, José e Jorge(2011). Passarei a falar sobre cada um deles porque é preciso sarar o luto, enterrar os mortos e evitar o esquecimento.”Morrer não dói, o que dói é o esquecimento”, proclama um guerrilheiro da Nuestra América: o Subcomandante Marcos.

Elias Antonio Gosson.
Exatamente numa terça-feira de Carnaval morria meu pai; daí, em poema, eu ter escrito: “Meu pai morreu numa terça-feira de Carnaval/para não ver a quarta-feira de Cinzas.”. Duas
metáforas: morreu moço, aos cinqüenta e dois anos de idade e evitou
estender a melancolia que nos acompanha no ocaso da vida. Era natural
de Maranguape/Ceará, filho de Antonio José Gosson e Sofia Hamaney
Gosson, ambos do Líbano, que ultrapassaram fronteiras em busca de
novos horizontes. Os árabes ocuparam o Nordeste brasileiro nos
primeiros trinta anos do século passado. Os Gosson (significa Árvore
Frondosa em Árabe) que para cá vieram eram três irmãos: Antonio,
Moisés e Abdon. Fixaram-se em no Ceará, em Maranguape, terra de Chico Anísio. Após alguns anos o mais moço Abdon- veio para o Rio Grande do Norte; depois, o meu avô Antonio e o outro Moisés preferiu ficar em Maranguape/CE constituindo família. Na velhice sempre vinha nos visitar e guardo na lembrança a seguinte imagem: aquele senhor
costumava botar os pés numa bacia de água morna e começava a
barbear-se e a filosofar: “- meu sobrinho, essa vida sem uma ilusão
é uma merda!”, num português arrastado.
Meu pai, dos seis irmãos, era o que tinha mais vocação para o
comércio. Foi um misto de funcionário público, comerciante e
jornalista. Escrevia semanalmente crônicas para os jornais, tinha um
programa semanal na Rádio Trairi e foi presidente por longo 12 anos da
Federação de Umbanda do RN: gostava de estudar as manifestações afro
na Cultura Brasileira. Na hierarquia do Candomblé chegou a ser
babalorixá, o equivalente à cardeal no Catolicismo. Foi candidato a
vereador na legenda do MDB nos idos de 1970 em dobradinha com Antônio Câmara, obtendo em torno de 152 votos. Foi quando compreendeu que a nossa Democracia é de araque: só ganha quem tem e quem sabe gastar dinheiro na compra de votos. Tinha três qualidades que agradam a Deus:
1. Humildade; 2.simplicidade;3.honestidade. Hoje, mora na Nova
Jerusalém, ao lado da resplandecente estrela da manhã!

(*) Escritor e Poeta. Preside da União Brasileira de Escritores/RN

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